Tomie Ohtake nasceu em Quito, no Japão, em 1913. Veio para o Brasil com 23 anos para visitar o irmão, mas, com a deflagração da guerra, prolongou sua permanência no nosso país. Casou-se com um engenheiro agrônomo e, a partir de então, tomou o Brasil como sua segunda pátria.

Aos 31 anos, encontrou –se com o pintor Keisuke Sugano, recém chegado do Japão e, auxiliada por ele, fez seus primeiros quadros, simples pinturas figurativas. Depois, fez algumas paisagens com inclinação para o fauvismo e outras experiências já com a presença do cubismo.

A maior parte dos quadros pintados nessa primeira fase artística perdeu-se numa das enchentes, tão comuns em certas regiões de São Paulo. Em 1953, participou da primeira exposição numa associação de japoneses na zona sul de São Paulo (grupo Seibi), muito prestigiada pela colônia. Nessa primeira exposição, Tomie recebeu medalha honrosa e, em duas outras exposições no mesmo local, nos anos seguintes, recebeu medalhas de ouro.

O desabrochar da arte de Tomie se deu com a fase figurativista, o que é perfeitamente compreensível, pela influência de seu primeiro e único professor, crítico severo de seu trabalho, condicionando-lhe, de certa maneira, à fluidez do estilo.

Não tardou em seguir seu próprio caminho, fazendo experiências fauvistas, cubistas e enveredando, depois, para o concretismo, mergulhando por inteiro no abstrato, em que permaneceria definitivamente, mas sempre fiel à forma, ao desenho bem caracterizado, à aplicação das cores de uma maneira racional e organizada.

Em 1957, seis anos depois de começar a pintar, já realizava sua primeira exposição individual no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Foi presença constante de exposições anuais dentro e fora do país. Em 1986, o Museu de Arte de São Paulo realizou uma retrospectiva de sua obra. Igual feito foi repetido em 1996 pela Bienal de São Paulo.

Contribuiu para isso, entre outros atributos, a naturalidade e simplicidade com que sempre encarou a arte, transferindo para a tela o que lhe ia pela alma, sem concessões a modismos de curta duração e sem se curvar a imposições do mercado.

Tomie é, sem sombra de dúvidas, uma das artistas mais bem-sucedidas na segunda metade do século 20, pois demonstra fidelidade aos próprios conceitos e sua arte é única.

Ohtake já foi chamada pela crítica especializada de “a dama das artes plásticas brasileiras” e, curiosamente, não se enxerga uma ligação consciente de sua obra com princípios orientais. No entanto, as formas sempre estiveram presentes em suas obras (pinturas, gravuras ou esculturas), fossem elas circulares, ovais, retangulares, quadradas ou representadas isoladamente, justapostas ou em série.

Fonte: Texto de Paulo Victorino.