EDIÇÃO 19

A Arte e a Ciência

Existe uma grande similaridade entre o artista e o cientista. Ambos realizam o mesmo exercício básico, que é a criação.

Quando um pintor realiza reproduções (cópias) de grandes mestres da pintura, destinadas à decoração, mesmo que as fazendo perfeitas e absolutamente fiéis aos originais, não deverão ser consideradas obras de arte, por não exibirem o aspecto de criação. O pintor tem habilidades que lhe permitem copiar tal qual o original, mas não consegue criar.
Um artífice reproduz o que o cientista criou, podemos dizer que o cientista foi quem inventou a Penicilina e o artífice a fábrica.

O artista lida, antes de tudo com o subjetivismo de imagens e sentimentos. O cientista restringe-se ao exame do mundo, dos fatos, fenômenos que acontecem e necessidades emergentes.
O artista tem a preocupação de sintetizar situações ou eventos através da pintura, escultura, dança, música ou teatro. O cientista dedica-se primordialmente a analisar materiais ou eventos buscando soluções inovadoras.
O artista seleciona seus materiais, conjuga-os, compõe e constrói. O cientista isola, fraciona e desmonta matérias em suas partes constitutivas visando a análise.
O artista faz o instante durar, dar permanência ao transitório. Ele é um elo entre o passado e o futuro. O cientista está a todo momento buscando fazer novas descobertas que venham solucionar problemas ou situações vividas pela humanidade.
O artista esmiúça reações individuais e se baseia em experiências e olhares próprios. O cientista visa estabelecer leis que se apliquem a todos e resolvam situações coletivas.
Uma obra de arte, uma vez elaborada, permanece como um marco final de sua época, As obras de arte “contam” a história. A teoria científica é calcada em cima das pesquisas e descobertas subsequentes. A pesquisa é o caminho que leva a descoberta.
Os artistas dão forma e conteúdos aos sentimentos. Os cientistas tendem a se tornar especialistas, limitando mais e mais seus campos de ação.
Os artistas, além de registrar os fatos pela visão própria, ainda deixam o mundo mais colorido, mais bonito, mais expressivo. Os cientistas, fazem experimentos e criam soluções para que tenhamos um mundo melhor e possamos ter melhor qualidade de vida.

O artista e o cientista estão o tempo todo em processo de criação, o cientista buscando a lógica e o artista registrando emoções, portanto, podemos dizer que o que eles tem em comum é a CRIATIVIDADE.

Arte (Pablo Picasso) e Ciência (Albert Einstein)

Analisando e comparando vida e obra de Albert Einstein e do pintor Pablo Picasso, os maiores representantes de suas respectivas áreas no século XX, percebemos que  o trabalho mais importante da carreira de cada um deles aconteceu no ano de 1905. Neste ano, Einstein publicou a Teoria da Relatividade, e Picasso começou a pintura de “Les Demoiselles d´Avignon”.
A primeira década do século XX, época inovadora, de mudanças, quase parecida com Renascença, poetas e rebeldes questionavam o conhecimento tradicional na arquitetura, arte e física. Einstein e Picasso foram motivados por isso. Estavam na casa dos 20 anos, eram rebeldes, pobres e viviam à procura de novidades.
Einstein era funcionário público, conseguiu um emprego no escritório de patentes graças à indicação de um amigo, porque não havia sido tão brilhante na universidade. Em 1904, casou-se com uma ex-colega de universidade, Mileva Maric. Tiveram o primeiro filho e passavam por dificuldades financeiras, mas apesar de tudo isso entre 1902 a 1909 teve seus período mais criativo.
Já Picasso morava em Paris, e embora seu talento tenha sido reconhecido quase imediatamente, seus admiradores eram seus amigos escritores, entre eles Guillaume Flammarion, e não outros pintores. Seu ateliê era no pico da região de Montmartre, na capital francesa, local onde até hoje é o refúgio de pintores da Europa.

Os físicos, naquela época, faziam distinção entre ondas e partículas. Einstein achava que duas formas de medida eram redundantes, ele não considerava estética esta dupla possibilidade. Na mesma época, Picasso também buscava uma nova estética, que começou com “Les Demoiselles d´Avignon”, quadro concluído em 1907. Já nesta obra, há uma mulher cujo rosto já tem as marcas do cubismo. A preocupação dele em fazer um quadro não era menor que a de um cientista em sua pesquisa. Picasso faz pesquisa a respeito de novas criações tecnológicas, como o avião, o telégrafo, automóvel e a fotografia, mas foi na matemática que  descobriu a geometria multifuncional e começou a fazer uma série de experiências geométricas na pintura, buscando maneiras de desenvolver a 4ª dimensão na tela. Ele descobriu que a geometria era o conceito certo para a expressão de sua arte.
Pensando na criatividade de Picasso e Einstein, podemos refletir que no momento da criatividade não há barreira entre ciência e arte.

Ivete Raffa
Arte educadora e Pedagoga